Fichamento


Fichamento do capítulo 
“IDENTIDADES CULTURAIS: UMA DISCUSSÃO EM ANDAMENTO”


IDENTIDADE COMO DIÁSPORA – STUART HALL

1.    IDENTIDADE:
“[...] a identidade é uma busca permanente, está em constante construção, trava relações com o presente e com o passado, tem história e, por isso mesmo, não pode ser fixa, determinada em um ponto para sempre, implica movimento.” (p. 148)
“[...] as identidades não são nunca completas, finalizadas. Ao contrário, estão em permanente processo de constituição. São narrativas, discursos contados a partir do ponto de vista do Outro.” (p. 157)
“[...] identidade é sempre em parte uma narrativa, sempre em parte um tipo de representação. Está sempre dentro da representação. Identidade não é algo que é formado fora e, no final, nós narramos histórias sobre ela. É o que está narrado na nossa própria pessoa.” (HALL, 1991a, p. 49 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 157)
“Em primeiro lugar, identidade é um espaço onde um conjunto de novos discursos teóricos se interseccionam e onde um novo grupo de práticas culturais emerge. Trata-se de uma categoria política e culturalmente construída em que a diferença e a etnicidade são seus elementos constituintes; a experiência da diáspora se transforma em emblema do presente; a hibridação deixa sua marca e a fluidez da identidade torna-se ainda mais complexa pelo entrelaçamento de outras categorias socialmente construídas, além das de classe, raça, nação e gênero.” (p. 156)
1.1) CLASSE, RAÇA, NAÇÃO E GÊNERO: “são ‘as grandes identidades coletivas sociais’ que não desaparecem, mas não têm mais a força de antes.” (p. 156)
1.2) IDENTIDADES DIASPÓRICAS: “[...] Hall presta acurada atenção às identidades diaspóricas, isto é, o que a experiência da ‘migração’ afeta a identidade, pois ninguém se translada de um lugar a outro ou herda e se apropria de culturas diversas sem ser afetado por essa experiência. E, aqui, as características da hibridez – expressa na ideia de cut and mix – e do movimento integram-se às características, anteriormente descritas, na constituição da identidade.” (p. 157)

1.3) IDENTIDADE DIFERENTE DA PERSPECTIVA PÓS-MODERNA: “[...] resta anotar que a forma de Hall pensar a identidade é diferente da perspectiva pós-moderna. Embora admita um certo descentramento do sujeito na atual conjuntura, nega a existência de algo tão novo e completamente diferente e de certa maneira unificado como a condição pós-moderna. Reconhece a vigência de experiências que podem ser vistas como uma tendência emergente ou uma entre outras tantas, mas essa não tem uma forma cristalizada.” (p. 159)


2.    ESTADO-NAÇÃO:
“[...] o Estado-nação não é apenas uma entidade política, mas, também, uma formação simbólica que produz uma ‘ideia’ de nação enquanto uma ‘comunidade imaginada’.” (p.152)

3.    GLOBALIZAÇÃO:
“O que é esse novo tipo de globalização? O novo tipo de globalização não é inglês, mas americano [norte americano]. Em termos culturais, o novo tipo de globalização tem a ver com uma nova forma de cultura de massa global, muito diferente daquela associada com a identidade inglesa e as identidades culturais associadas ao Estado-nação numa fase anterior. A cultura de massa global é dominada pelos meios modernos de produção cultural, dominada pela imagem que atravessa e reatravessa fronteiras linguísticas muito mais rápida e facilmente, e fala através de linguagens de um modo muito mais imediato.” (HALL, 1991b, p. 27 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 153)

4.    CULTURA DE MASSA GLOBAL:
“Sintetiza-se que essa ‘cultura de massa global’ permanece centrada no Ocidente ou melhor nas narrativas ocidentais; ‘fala inglês’ enquanto língua internacional; é dominada por imagens da publicidade, da televisão e do cinema; é uma forma peculiar de homogeneização, ou seja, é uma forma de representação cultural (fundamentalmente, visual) homogeneizadora mas nunca absolutamente completa.” (p. 153)

5.    POLÍTICA DE REPRESENTAÇÃO:
“[...] Hall identifica em curso uma ‘política de representação’ – um envolvimento dos sujeitos que até então poderiam estar localizados ‘nas margens’, em reclamar alguma forma de representação por si mesmos. Duas questões passam a ser cruciais nesse contexto: a disposição de viver com a diferença e, de outro lado, a etnicidade.” (p. 155)

5.1) A DISPOSIÇÃO DE VIVER COM A DIFERENÇA: “a multiplicidade de diferenças que operam na constituição e representação da identidade.” (p. 155)
5.1.1) DIFFÉRANCE (DERRIDA): “Ainda sobre a questão da diferença, Hall se apropria do termo derridiano différance para evocar o jogo de significantes e a multiplicidade de diferenças que operam no caleidoscópio da identidade e sua representação. Segundo Hall, essa noção instaura uma certa perturbação no estabelecido entendimento de diferença, mas alerta para o risco de escorregar para o desconstrucionismo e seu infinito jogo de significantes.” (p. 158)
“Pensar a identidade através da diferença é voltar-se, também, para a politização do local e dessa nova noção de identidade.” (p. 158)

5.2) ETNICIDADE: “O termo etnicidade admite o entendimento do espaço da história, da linguagem e da cultura na construção da subjetividade e da identidade, isto é, um reconhecimento em que todos nós falamos a partir de um lugar, de uma história, de uma experiência, de uma cultura particular.” (p. 155)
“Nesse sentido, nós somos todos etnicamente situados e nossas identidades étnicas são cruciais para nosso senso subjetivo de quem somos.” (HALL, 1996j, p. 447 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 155)

IDENTIDADE COMO DESCENTRAMENTO – MARTÍN-BARBERO

1.    IDENTIDADE
“A posição desse autor [...] é essencialmente crítica em relação àquelas teorias que procuram associar o sentido das identidades culturais a uma essência ou em termos de uma ‘pureza’ do ser latino-americano. A ideia de identidade cultural deve servir para discutir a progressiva transformação dos valores sociais e para explorar os diversos tecidos culturais que a compõem. Desprende-se, de tal, reflexão, uma proposta que destaca a natureza negociadora da formação histórica da identidade cultural latino-americana. Para ele, a identidade cultural latino-americana é uma mistura, uma ‘mestiçagem’.” (p. 165, grifos nossos)
1.1) MESTIÇAGEM:
“Esta [a mestiçagem], no entanto, não se refere estritamente ao cadeirão racial que caracteriza nosso território, mas a trama entre modernidades e descontinuidades, de memórias e imaginários que misturam o rural com o urbano, o popular com o massivo. Na mestiçagem, as culturas rurais, urbanas, raciais, locais, regionais, nacionais e transnacional interagem. E o fato de que a cultura massiva, seja aquela originária da América Latina como a de outros continentes, faça parte desse conjunto não contribui para que essa mestiçagem se descaracterize ou seja ‘menos latino-americana’, pois é o próprio mix que é único.” (p. 165-6)
“Os processos políticos e sociais vividos na América Latina nos anos 70 e 80 mexeram profundamente com algumas certezas teóricas, com a ‘razão dualista’ e com esquematismos correntes na época que confrontavam rural/urbano, popular/erudito, Europa-Estados Unidos/América Latina, universal/local etc. Ao colocar as fronteiras desses termos em xeque, foi possível confrontar-se com outra ‘verdade cultural desses países: a mestiçagem, que não é somente fenômeno racial do qual viemos, mas trama contemporânea de modernidade e descontinuidades culturais, de formações sociais e estruturas de sentimento, de memórias e imaginários que remexem o indígena com o rural, o rural com o urbano, o folclore com o popular e o popular com o massivo.” (MARTÍN-BARBERO, 1987a, p. 10 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 161)

2) IDENTIDADES LOCAIS: “Associada às reestruturações do espaço e do tempo, a constituição das diversas identidades locais converte-se em ‘representação da diferença’, mas uma diferença comercializável, isto é, ‘submetida ao turbilhão de colagens e hibridações que o mercado impõe’.” (MARTÍN-BARBERO, 1997a, p. 32 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 176)

3) MODERNIDADE LATINA
“Na perspectiva de Martín-Barbero, a modernidade latino-americana enquanto experiência coletiva, está estreitamente vinculada a expansão das indústrias culturais. Ao contrário da modernidade ilustrada, em que a cultura do livro era o eixo, aqui é, principalmente o rádio, o cinemas, a televisão, seu suporte.” (p. 162)
“A modernidade fala na América Latina, de uma maneira peculiar, da compenetração e da cumplicidade entre a oralidade – como experiência cultural primária da maioria das pessoas – e a visualidade eletrônica. [...] As maiorias em nossos países aceitam e se apropriam da modernidade sem deixar sua cultura oral, sem passar pelo livro, com tudo o que isso implica de escândalo e de desafio para nossos modelos de cultura.” (MARTÍN-BARBERO, 1995b, p. 169 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 162)

3.1) “NÃO-EXTERIORIDADE DO MASSIVO NO POPULAR” NA CONSTITUIÇÃO DA MODERNIDADE LATINO-AMERICANA: “A noção de popular é revista, passando a estabelecer-se uma relação dinâmica entre o popular e o massivo. Porém, na modernidade latino-americana, ‘não se confundem memória popular e imaginário de massa, mas se abandonam a conhecida ilusão essencialista de um estrato popular incontaminado e autêntico’.” (HERLINGHAUS, 1998, p. 18 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 162)
3.2) “MODERNIDADE NÃO-CONTEMPORÂNEA” DA AMÉRICA LATINA: “Essa não-contemporaneidade é distinta da ideia de ‘atraso constitutivo’, isto é, o atraso não é o traço explicativo da diferença cultural.” (p. 162)

4) ESPAÇO PÚBLICO:
“A esfera pública vai corresponder fundamentalmente ao espaço controlado pelos meios de comunicação de massa.” (p. 163)

5) “MAL-ESTAR LATINO-AMERICANO NA MODERNIDADE”
“Aí se enraízam algumas das nossas mais secretas e entranhadas violências. Pois as pessoas podem com certa facilidade assimilar os instrumentos tecnológicos e as imagens da modernização, mas só muito lenta e dolorosamente podem recompor seus sistemas de valores, de normas éticas e virtudes cívicas. [...] Não dispomos de categorias de interpretação capazes de captar o rumo das vertiginosas transformações que vivemos. Somente alcançamos vislumbrar que na crise dos modelos de desenvolvimento e dos estilos de modernização existe um forte questionamento das hierarquias centradas na razão universal, que ao perturbar a ordem sequencial libera nossa relação com o passado, com nossos diferentes passados, permitindo-nos recombinar as memórias e reapropriar-nos criativamente de uma descentrada modernidade.” (MARTÍN-BARBERO, 1996a, p. 59 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 165, grifos da autora)

6.    PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO
“são ‘fenômenos de produção de identidade, de reconstituição de sujeitos, de atores sociais’.” (MARTÍN-BARBERO, 1995d, p. 71 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 165)

7.    MEIOS DE COMUNICAÇÃO
“os meios de comunicação ‘não são um puro fenômeno de manipulação ideológica, são um fenômeno cultural através do qual a pessoa, ou muitas pessoas, cada vez mais pessoas vivem a constituição do sentido de sua vida’.” (MARTÍN-BARBERO, 1995d, p. 71 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 165, grifos da autora)

8.    MEDIAÇÕES
“Para entender o papel dos meios no processo de articulação de identidades, Martín-Barbero introduz o conceito de mediações. [...] Para Martín-Barbero, o sentido dos meios não está no texto ou mesmo na ‘leitura’ do texto, mas aloja a fonte de criação do sentido nas interações sociais e movimentos de grupos que buscam por identidades. O sentido do texto dos meios depende muito mais das identidades que os diferentes grupos estão tentando definir.” (WHITE, 1995, p. 484 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 166)

9.    NOVO PARADIGMA
“Ao recuperar novamente alguns teóricos alinhados com o que se denomina pós-modernidade, Martín-Barbero vai começar a observar que se delineia a emergência de um novo paradigma, caracterizado pelo fluído e circular em oposição ao mecânico e linear. A superação desse pensamento linear está fazendo possível reconhecer novos espaços e modos de relação, assim como uma nova sensibilidade. [...] Embora ainda mostre reticências e críticas em relação a esse paradigma, vai propor um programa, citando García Canclini, que se assuma ‘sem nostalgias nem estremecimentos’ que é na ‘América Latina onde se realiza com ênfase um dos traços destacados pelo pós-modernismo na cultura atual: ser a pátria do pastiche e da bricolagem, onde se citam ironicamente todas as épocas e estéticas’.” (MARTÍN-BARBERO, 1988, p. 15 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 168)

10. NOVAS DINÂMICAS CULTURAIS
“É importante situar esse movimento no pensamento de Martín-Barbero em sintonia com a descrição das novas dinâmicas culturais, identificadas por ele próprio e que estariam caracterizando as sociedades latino-americanas atuais. Aqui, podem ser apontadas as situações correntes mais determinantes. A primeira delas diz respeito ao modo como as indústrias culturais estão reorganizando as identidades coletivas e as formas de diferenciação simbólica, esmaecendo cada vez mais as demarcações entre culto e popular, tradicional e moderno, o próprio e o alheio. [...] Uma segunda dinâmica trata da ação simultânea dos meios massivos que hibridizam mas, também, separam ‘aprofundam e reforçam as divisões sociais, refazem as exclusões que vêm da estrutura social e política, legitimando-as culturalmente’.” (MARTÍN-BARBERO, 1990a, p. 9 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 168)

11. DESCENTRAMENTO
“[...] desordem que afeta tanto a noção de espaço como de tempo [...].” (p. 172)
“[...] a partir da perspectiva do des-centramento e da diáspora, a comunicação deixa de ser confundida com o movimento de uma mensagem que circula entre um emissor e um receptor. E encontra a ideia e a imagem de rede – ou melhor, em seu plural: redes – a possibilidade de pensar a multiplicidade de sentidos que sustenta a comunicação humana e a diversidade de sentidos em que se move a informação ao dispersar-se no entrelaçamento dos circuitos.” (MARTÍN-BARBERO, 1998a, p. 206 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 172)

12. HIPERTEXTO
“Embora reiterada a ideia de que a modernidade latino-americana está fundada na conexão entre cultura oral e visualidade eletrônica, agora, Martín-Barbero nomeia o hipertexto, ou seja, aqueles ‘textos sem centro e direção fixa’, como sua narrativa central.” (p. 172-3)

13. MAPAS NOTURNOS: O MUNDO E A TÉCNICA
13.1) A CATEGORIA “MUNDO”: “[...] a passagem de um processo de internacionalização para o de mundialização, reclama assim um novo paradigma, pois o mundo de hoje não pode estar ancorado no tempo das relações internacionais. Interligada com a ideia de mundo está a recorrente temática que se encontra na ordem do dia: a globalização.” (p. 173)
13.1.1) GLOBALIZAÇÃO: “[...] está sempre a exigir explicação pois transforma-se tanto em metáfora vazia quanto pode ficar reduzida à concentração e ao poder alcançado perlo mercado.” (p. 173)
13.1.2) DUAS IMAGENS PARA “MUNDO”: “A primeira delas é o que nos ofereceu o primeiro satélite, proporcionando ‘ver o mundo a partir do espaço’. Isso colocou em andamento a globalização do imaginário humano. A segunda imagem é a queda do Muro de Berlim, que serviria como metáfora do fim das barreiras entre Leste e Oeste.” (p. 173)
13.2) A CATEGORIA “TÉCNICA”: (3 possibilidades de abordagem:)
13.2.1) O HIPERTEXTO E O PALIMPSESTO: “essa nova enciclopédia na qual as palavras já não remetem mais a outras palavras, mas a imagens e sons mobilizadores de novos modos de escritura e leitura, que são os hipertextos. E essa escritura difusa que confusamente emerge nas entrelinhas com as quais escrevemos o presente é o palimpsesto.” (MARTÍN-BARBERO, 1998a, p. 213 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 174)
13.2.2) “AS NOVAS NARRATIVAS QUE A TECNOLOGIA FAZ POSSÍVEL, PRINCIPALMENTE AQUELAS TRAMADAS PELA SENSIBILIDADE DOS JOVENS”
13.2.3) “A TÉCNICA NÃO MAIS COMO MERA TRANSMISSORA, MAS COMO PARTE CONSTITUTIVA DOS NOVOS MODOS DE PRODUZIR CONHECIMENTO”
14) TEMPO
“Em relação ao tempo, sua marca hoje é o instantâneo, a ‘simultaneidade do atual’, remetendo, por um lado, ao ‘debilitamento do passado’, que fica reduzido à citação em expressões de qualquer natureza (tais como a arquitetura, literatura, etc) e, de outro, à ‘ausência de futuro’, instalando-se um ‘presente contínuo’.” (p. 176)

IDENTIDADE COMO HIBRIDISMO – GARCÍA CANCLINI

1.    A IDENTIDADE LATINO-AMERICANA
“García Canclini (1989a) vai conceber a América Latina como uma articulação complexa entre tradições e modernidades, diversas e desiguais, coexistindo em múltiplas formas de desenvolvimento. A partir dessa constatação, o autor converte o termo ‘hibridismo cultural’ em modelo explicativo de identidade.” (p. 177)

“[...] a constituição do latino-americano, isto é, sua identidade, pode apresentar sua cara na cultura visual.” (p. 177, grifos nossos)

1. 1) CULTURA VISUAL: “O termo cultura visual [...] abrange os diversos sistemas de imagens e desenhos presentes na organização simbólica de cada sociedade (arte, artesanato, meios massivos, arquitetura, desenho gráfico e industrial) e, também, os processos mistos onde esses sistemas se cruzam e se interpenetram.” (p. 177)
“Embora essa cultura visual tenha truncado as explicações de encontrar uma identidade constituída na raça, num território ou num patrimônio, não eliminou o questionamento em torno da identidade. Ao contrário, em tempos de contradições e instabilidades essa questão se torna ainda mais premente. É exatamente neste ponto que o termo “hibridação” se transforma no eixo do conceito de modernidade latino-americana, para García Canclini.” (p. 179-180)
1.2) HIBRIDAÇÃO
“Na avaliação de Herlinghaus (1997, p. 47), a concepção de hibridização cultural12 de García Canclini é pós-moderna “na medida em que relativiza aquelas metas que impediram de pensar o descontínuo e o multitemporal”. Nos cruzamentos e nas negociações entre o culto, o popular e o massivo suspendem-se as lógicas modernas de divisão, separação e pureza destes níveis.” (p. 181)

2) MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA: “a partir da consolidação da urbanização na América Latina, são os meios de comunicação de massa que vão estabelecer uma nova diagramação dos espaços e intercâmbios urbanos.” (p. 177)

3) PATRIMÔNIO
“Outro ponto relacionado à precária construção da modernidade na América Latina e, por sua vez, à identidade latino-americana, concentra-se nos esforços políticos em construir patrimônios culturais comuns como base simbólica das nações modernas. Nas suas versões mais modernas, a ideia de patrimônio se constitui em expressão da aliança entre classes e abrange a herança cultural comum de cada povo. Em tais modalidades são incluídas práticas dos membros dessas sociedades que vão permitir uma identificação conjunta. Em outras palavras, tentam abarcar tanto os bens produzidos pelas classes hegemônicas quanto os das classes populares.” (p. 179)

4) CONSUMO, IDENTIDADE CULTURAL E CIDADANIA

4.1) CONSUMO
“Uma das idéias-chave é de que os problemas do consumo não podem ser vistos apenas como relacionados à eficiência comercial, aos negócios, à publicidade, ou ainda, como uma questão de gostos pessoais. Entender como as mudanças na maneira de consumir foram alterando as formas de exercer a cidadania e a construção da identidade é a provocação que García Canclini propõe.(p. 183)

4.2) CIDADANIA
“García Canclini dirige-se à cidadania, entendida como ‘o núcleo daquilo que na política é relação social’, sem desvinculá-la do consumo. Ao repensar a cidadania em conexão com o consumo e como estratégia política, procura-se uma forma de articular o poder de organização do Estado com o do mercado.” (P. 183-4)

“Um significado mais amplo de cidadania, segundo García Canclini, implica abranger as práticas emergentes não consagradas pela ordem jurídica, em rever o papel das subjetividades na renovação da sociedade e entender seu lugar na ordem democrática. Se ampliarmos seu sentido, poderemos conectar cidadania e consumo, considerando as atividades do consumo cultural como uma dimensão da cidadania.” (p. 187)

4.3) IDENTIDADE CULTURAL
“A definição sobre quem somos nós, os latino-americanos, continua demarcando um espaço importante na reflexão de García Canclini. Se antes as identidades se definiam pelas relações com o território, tentando expressar a construção de um projeto nacional, atualmente configuram-se no consumo, dependem daquilo que se possui ou daquilo que se pode chegar a possuir.
O rádio e o cinema e, particularmente no caso brasileiro, a televisão, contribuíram, na primeira metade deste século, para a organização da identidade e do sentido de cidadania nas sociedades nacionais, na América Latina. Os meios massivos acabaram unificando os padrões de consumo e proporcionando uma visão nacional. [...] A identidade, para García Canclini, é entendida enquanto uma narrativa que se constrói; um relato reconstruído incessantemente e não uma essência dada por uma vez e em forma definitiva. Uma narrativa construída pelos e entre diversos atores sociais, mas que se realiza em condições desiguais devido às relações de poder que intervêm. Dessa maneira, a identidade torna-se uma co-produção que inclui a presença de conflitos pela coexistência de nacionalidades, etnias, gêneros, gerações etc, constituindo-se simultaneamente em representação e ação.” (p. 185-6, grifos nossos)

5) NEGOCIAÇÃO
“A negociação é um componente-chave no funcionamento das instituições e dos campos socioculturais. A negociação, hoje, é uma modalidade de existência, “está instalada na subjetividade coletiva, na cultura cotidiana e política mais inconsciente. Seu caráter híbrido, que na América Latina vem da história de mestiçagens e sincretismos, acentua-se nas sociedades contemporâneas pelas complexas interações entre o tradicional e o moderno, o popular e o culto, o subalterno e o hegemônico” (1995b, p. 238).” (p. 186)

6) ESPAÇO PÚBLICO
“Nem subordinada ao Estado, nem dissolvida na sociedade civil, a esfera pública reconstitui-se simultaneamente na tensão entre ambos (1995b, p. 253 apud ESCOSTEGUY, 2010, p. 188).”

7) PROJETO POLÍTICO (MULTICULTURALISMO DEMOCRÁTICO)
“Enfim, a proposta de García Canclini culminaria na construção de um multiculturalismo democrático, a partir do Estado, da sociedade civil e de uma nova forma de pensar o mercado. Dessa forma, constituir-se-ia um espaço cultural cuja base seria o reconhecimento multicultural da América Latina e onde as forças monopolistas do mercado estariam sob controle mediante ação pública do Estado. Este seria, então, o projeto político implícito em tais formulações.” (p. 188-9)


8) GLOBALIZAÇÃO
“O discurso da globalização enquanto construção teórica admite uma diversidade de entendimentos e sentidos que variam de acordo com as suposições e compromissos da teoria em questão. Por essa razão, o termo é utilizado, nesta seção, com o sentido geral de descrever as formas pelas quais as forças econômicas, políticas e culturais globais estão rapidamente alastrando-se pelo globo e criando um novo mercado mundial, novas organizações políticas transnacionais e uma nova cultura global (CVETKOVICH E KELLNER, 1997).
Parece ser no âmbito da cultura que a globalização se torna mais aparente e visível porque os meios de comunicação e os sistemas de informação, através da cultura mundial do consumo, fazem circular produtos, imagens e idéias pelo globo todo, alterando de forma notável a experiência cultural de viver sob o capitalismo.” (p. 190)